ROTINAS
- Por gentileza, meu nome é Bacuara, poderia avisar o senhor Malaquias que estou aqui?
- O senhor Malaquias ainda não chegou, se quiser aguardar um pouco fique a vontade.
- Eu aguardo sem problemas, também cheguei um pouco atrasado do horário previsto.
- O senhor aceita um café, água?
- Sim, aceito ambos.
Fixo em um ponto perdido, lembrou-se de alguns detalhes que desenvolveu em sua pesquisa a pedido do senhor Malaquias. Ele fez questão que Bacuara pesquisasse a nível mundial a reação de mulheres na faixa dos 20 aos 40 anos de idade em suas situações financeiras (se flutuantes ou estáveis), depois a faixa dos 60 aos 80 anos na mesma situação. Ponto de vista e número de filhos. Foi o momento mais difícil para ele, mulheres mais idosas não gostam muito de falar de suas experiências financeiras, principalmente em se tratando de mencionar que um dia tiveram dinheiro e acabaram na velhice sozinhas e dependendo dos benefícios da sociedade. É complicado também verificar mulheres de baixa renda com maridos ou companheiros ignorantes a respeito das intenções da pesquisa. Seus pensamentos iam longe, lembrando de cada detalhe, detalhes e dificuldades nas filmagens. Valeu a pena, esta reunião seria muito proveitosa. Bacuara preparou um DVD com tópicos em resumo de toda a pesquisa e sabe que irá atrair muita atenção do filósofo. O fato é que Malaquias deu um voto de confiança para Bacuara que afinal vinha de um trabalho totalmente diferenciado com relação a trabalhos televisivos. Seu trabalho era mais gráfico e ficava a espreita do público. A Internet era seu mundo. Hoje o mundo é sua realidade.
Dona Clara não entendia por que este movimento estranho logo cedo, tinha que ouvir as notícias, elas não eram muito agradáveis.
“_ um homem branco, não identificado, bem vestido, aparentando quarenta de cinco anos de idade foi encontrado morto esta manhã no Condomínio Águas de Março localizado no Parque Primavera. Conversando com moradores do condomínio, ninguém conhecia aquele homem, não se sabe exatamente a que horas o crime aconteceu, só se sabe que ele foi encontrado caído no meio do corredor do terceiro andar, próximo ao elevador com a cabeça partida ao meio.”
Preferiu desligar o rádio e voltar ao serviço, afinal, o café da manhã dos meninos de seu patrão. Logo a fisioterapeuta estaria chegando para mais uma sessão na banheira e não queria deixar nada de fora de sua atenção. Quando Vonda descia as escadas, seu celular tocou,ele já ecoou um sorriso fugaz.
-Bom dia meu nobre amigo, bela manhã a de hoje não é?
- Você não ouviu as noticias desta manhã?
- Nem cheguei na mesa do meu desjejum amigo!!!
- Ligue ai na TV e assista, depois eu te ligo.
- É coisa ruim?
- Depende do ponto de vista.
Olhando curioso para dona Clara, ele pediu para que ligasse a TV.
- Aconteceu alguma coisa senhor?
- Não, só estou curioso. Minha mãe já viajou?
- Sim. Saiu cedinho, sabe como ela é sistemática com horários.
- Mas o que é isto, um assassinato no Águas de Março, como foi isso?
Clara ficou passada, não queria mais ouvir sobre este assunto, só queria continuar o dia. Agora era Vonda quem este ligado na TV por isso.
- Dona Clara, peça para servirem meu café por aqui mesmo, quero saber melhor sobre isto. Alô, escute, é liguei a TV, que situação escandalosa, nunca imaginei um crime naquele condomínio...
- É Vonda, eu estava indo para lá quando ouvi a notícia pelo rádio do carro. E agora?
- E agora, fique quieto, vamos ver como vai correr este assunto. O pior é a mídia que não vai sair de cima. Você já soube de algo por Letícia?
- Não, ela não atende ao telefone.
- Nem o celular?
- Nada, deve estar assuntada ou então foi trabalhar bem cedo e não viu nada, não se sabe a hora do crime.
- Então está bem, mais tarde a gente se vê.
Odair levantou a porta da mercearia, já estava atrasado uns quinze minutos, foi logo abrindo a janela dos fundos e observou uma quantidade de garrafas de refrigerante caídas pelo chão, dois pacotes de macarrão. Achou estranho, será que tem ratos aqui dentro, pensou ele, afinal a porta estava muito bem trancada. Foi no caixa, e não viu nada de errado, mas quando chegou no banheiro ficou assombrado.
- Meu Deus, que susto é este? Quem é você, vai me matar?
- Não, de jeito nenhum senhor, por favor, não grite, por favor...
Era um jovem de estatura mediana, cor parda, aparentado ter vinte e cinco anos, encolhido no cantinho atrás da porta.